Direito & Design
O PODCAST DE LEGAL DESIGN
NOTAS DO EPISÓDIO
Temporada
Episódio #
07

Legal Hackathon. O que é? Por que você deveria participar de um?

Hackathon é coisa para advogados sim! Principalmente advogados que gostam de Legal Design. Nesse episódio dou algumas razões para você participar de um Hackathon e conto a minha experiência. Gostou da ideia? Acontecem muitos Hackathons ao longo do ano. O Global Legal Hackathon é um evento mundial que será realizado de 6 a 8 de Março de 2020 em várias cidades do Brasil e do mundo. Quer experimentar? Entre em www.globallegalhackathon.com, procure a sua cidade e chame seus amigos. Para saber o que aconteceu na edição de 2019 e ver alguns projetos que eu menciono no episódio acesse @globallegalhackathon2019 no Instagram.

Introdução

Logo logo vai acontecer o maior Hackathon jurídico do Mundo. No Brasil a gente tem várias cidades participando do evento. Eu resolvi então dedicar um episódio para o tema, porque ele ainda é novidade para muitos advogados e porque tem tudo a ver com o Legal Design. Então se você segue esse podcast, participar de um Legal Hackathon  pode ser a sua praia, e eu quero dar aquele empurrãozinho porque eu acredito que vale muito a pena (para mim valeu). Mas antes de eu contar a minha experiência participando de um Hackathon, vamos começar pelo começo.

O que é Hackathon?

[00:01:01] Hackathon é uma maratona de programação que nasceu nos Estados Unidos lá no final dos anos 90 onde vários programadores se reúnem para explorar dados abertos, desvendar códigos, sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projetos de software, ou, mesmo projetos de **hardware**. Nasceu como um evento de programação com programadores focados em objetivos comum, para que assim pudessem encontrar soluções. 

E o que é um Legal Hackathon? O que é um Hackathon jurídico?

O Hackathon jurídico é uma maratona mundial de programação, a fim de criar soluções para melhorar o acesso à justiça no mundo. Tem um tema e um objetivo bem claro. 

Em um Hackathon jurídico você não tem só programadores participando, tem advogados, designers e pessoas de negócio também. 

E como é que funciona isso?

São formadas várias equipes e cada equipe escolhe um tema para trabalhar e um produto para desenvolver, que pode ser uma solução pública ou privada. 

Um dos projetos, que saíram do Hackathon do ano passado (2019), foi uma plataforma onde o cidadão poderia peticionar sozinho no Juizado Especial Cível, sem advogados. Outra solução foi um game para extrair o depoimento de crianças e adolescentes abusados sexualmente, com o auxílio de um profissional da rede de proteção. Esse foi um trabalho muito bacana e um muito sensível também. Eles trabalharam muito bem a empatia de como conseguir extrair um depoimento de uma criança abusada, partindo do pressuposto de que normalmente as delegacias não são locais para receber crianças e adolescentes. Teve até soluções no âmbito da LGPD. Foi criado uma ferramenta para realizar buscas e notificações sobre vazamentos de dados. 

Esses são alguns dos projetos que saiu dessa maratona de três dias. No ano passado o projeto vencedor mundial veio da Alemanha, uma solução para traduzir documentos jurídicos - do juridiquês para uma linguagem normal - com uma aplicação bem corriqueira. 

O nome do produto é Uthority. Para entender a sua proposta imagine que uma pessoa receba uma notificação para comparecer como testemunha em um juizado. Quando o mesmo recebe a intimidação pode ficar assustado, porque não entende se aquilo vem com alguma sanção, ou, o que pode acontecer com ele.

O que uma pessoa normalmente faz quando recebe um documento jurídico é ir para um advogado para que ele explique do que se trata. 

O pessoal Uthority pensou que seria interessante um sistema que reconhecesse as principais informações deste documento e traduzisse em uma linguagem clara para a pessoa entender quais são as consequências e o que é que ela de fato precisa fazer. Então veio essa solução que não só traduz do juridiquês por uma linguagem clara mas também indica a onde a pessoa deve comparecer.

Então no caso de órgãos ou locais onde a pessoa tem que ir, esse sistema vai dizer para onde ela deve se dirigir. 

Então esses são alguns exemplos novos produtos e futuras Law Techs que de repente podem sair de um Hackathon como ideias de negócios. 

Mas como é que isso acontece?

São três dias e aproximadamente cinquenta horas de programação e de trabalho onde cada equipe vai desenvolver uma ideia seja para o setor público ou para o setor privado. Cada equipe precisa ter uma pessoa do direito, uma pessoa de design, uma de programação, um desenvolvedor e uma de negócios também - um expert em cada uma dessas áreas. 

É possível que tenha mais de uma pessoa por função, mas pelo menos um de cada. Isso porque a gente vai modelar uma solução que precisa ser viável economicamente, ter mercado, resolva um problema específico das pessoas e que seja tecnológica dentro do Direito. Por isso essa conversa entre profissionais de todas essas áreas diferentes. 

E você não precisa chegar lá no Hackathon com um projeto já formatado. Basta você chegar com sua equipe ou até mesmo sozinho. 

Se você é advogado e quer participar de um Hackathon sozinho - não conhece mais ninguém que queira participar - não tem problema. 

Você se inscreve no site do Global Legal Hackathon, coloca a tua habilidade (jurídica, design, etc) e quando chegar no dia você vai entrar em alguma equipe. Mas você também pode chegar com uma ideia do que você pretende desenvolver e uma equipe formada. Essa equipe pode estar pronta e ter os representantes de cada uma dessas áreas de conhecimento, mas também pode chegar um advogado ou um desenvolvedor sozinhos que vão encontrar algum designer e alguém mais que queira se juntar. Então não deixe de participar porque você não consegue fazer uma equipe ou você não sabe que ideia ter, qual produto desenvolver. Basta chegar na sua cidade, se tiver um Hackathon onde você mora, se inscrever e participar. 

Porque participar de um Legal Hackathon

Porque eu bato tanto na tecla que é legal participar de um Hackathon, e, eu acho que você deveria participar mesmo que não tenha um projeto de Lawtech, mesmo que não tenha um projeto de produto, só por participar mesmo.

Eu vou te dar três motivos.

1° - Se você segue o Direito & Design e você gosta de Design é uma baita oportunidade para você conviver com designers e participar de um projeto prático e intenso com uma equipe multidisciplinar - eu falo isso o tempo todo aqui, né? 

Quem me ouve já deve estar cansado de ouvir eu batendo nessa tecla, sempre falo da importância do trabalho colaborativo, multidisciplinar e de projetos práticos, porque que vem do Direito fica muito no campo das ideias e das estratégias. Então é uma super oportunidade de estar ao lado de designers - ver como trabalhar com designers - e fazer um projeto prático, principalmente se o teu dia a dia como advogado não é dentro de um ambiente tecnológico, se você não está em uma Lawtech, se você não está inserido numa empresa inovadora, e você não tem oportunidade de ver isso. . 

É uma super chance de estar em contato com um projeto na prática e com o design.

2° - Participar por causa do contato com os desenvolvedores (a equipe de programação). Porque a conversa entre desenvolvedores e advogados é bastante interessante. Cada um vendo o mundo de forma diferente. E para produzir soluções jurídicas tecnológicas um não vive sem o outro. 

A conversa não é muito simples, mas ela é muito rica! É uma excelente oportunidade de você trabalhar junto com os desenvolvedores, conviver e aprender como é que acontece esse diálogo. 

3° - Você vai estar imerso em um ambiente de inovação durante todo o final de semana. Onde se respira tecnologia, Direito e negócios (tudo junto). Para quem não está acostumado com esse tipo de ambiente é uma super experiência, porque você vai ficar mergulhado nisso só vendo esse tipo de negócio acontecer.

Motivo bônus - Eu recomendo que você participe pela adrenalina! 

A gente trabalha muito, mas o evento também é uma grande diversão. Construir um protótipo no final de semana, preparar um pitch para investidores - que é apresentado no final da competição - é uma super adrenalina. É uma competição e é uma experiência muito interessante com toda a equipe. 

E além de tudo você tem o ambiente de negócios. Porque a gente não faz produto só por fazer, tem que ter viabilidade de mercado. Essa vivência de negócios, tecnologia, design e programação é muito rica. E não é só a experiência com a sua equipe, você também vai conhecer pessoas de outras equipes, é um super networking. E no final do último dia cada equipe apresenta o seu projeto e faz o pitch para os investidores e os jurados que estão ali. 

Os jurados julgam e no final anunciam três soluções vencedoras - é o caso do Global Legal Hackathon. Depois vai para uma segunda etapa com competidores de todo o mundo, e, a final, que vai ser em Londres este ano (2020), onde sai o grande vencedor. 

A minha experiência no Global Legal Hackathon

[00:12:52] Independente de vencedores ou apenas participantes o aprendizado é muito rico, e eu quero contar para vocês como é que foi esse meu aprendizado. 

Eu participei do Global Legal Hackathon de 2019, na edição de Curitiba que foi na OAB do Paraná. 

Eu enfiei na minha cabeça que eu queria ver como isso funcionava, de tanto conviver com designers e desenvolvedores que já participavam. Eu era aquela pessoa do Direito que não era “rata” de Hackathon, porque meus colegas designers sempre participaram e os meus colegas desenvolvedores muito mais. 

Então eu tratei de arrebanhar alguns colegas designers e advogados que tivessem esse mesmo nível de curiosidade (e loucura), e no final a gente montou uma equipe de sete pessoas. Dois desenvolvedores, dois advogados, dois designers e uma pessoa de negócios. 

O tema que a gente resolveu trabalhar foi compliance - isso já estava muito claro desde o início. A equipe começou comigo e com uma outra advogada, que trabalha com compliance. A gente estava trabalhando muito nessa área, olhando alguns projetos e eu queria validar algumas ideias, e achei que o Hackathon era uma boa oportunidade para unir essas duas coisas - trabalhar a matéria de compliance e participar para conhecer o evento.

Então nós chegamos no primeiro dia com uma equipe de designers e advogados. Não tínhamos desenvolvedores e nem uma pessoa de negócios, só o tema e quatro pessoas que queriam trabalhar com ele. Então fomos buscar lá no evento. 

Achar uma pessoa de negócios foi bem fácil. Encontramos uma moça que queria trabalhar com nós e com o tema.  

Já achar desenvolvedores foi bastante problemático. Normalmente sobra advogados e sobra pessoal de negócios, mas falta programador. Então se vocês forem a um Hackathon tente convencer seus amigos programadores para irem também, porque vai precisar muito. No primeiro dia começamos sem ninguém para fazer a programação, mas aí apareceu duas pessoas, e no final deu tudo certo. 

O interessante é que só as advogadas conheciam o tema. Os designers, programadores e a pessoa de negócios nunca tinham ouvido falar em compliance, mas não tivemos problemas, a gente explicou e eles entenderam rapidinho.

Se você já vai com a equipe formada vale a pena fazer um briefing antes para explicar e tudo mais, mas se você vai juntar sua equipe lá ou vai se integrar sozinho em alguma equipe que já tem um tema tudo isso faz parte da dinâmica - entender o projeto e o tema conforme o evento vai acontecendo.

O importante é juntar todo mundo, ter um tema, uma ideia clara do que desenvolver e deixar que a magia aconteça. O evento é criado justamente para a experimentação.

Durante as etapas são feitas pausas para explicar o que é que precisa ser apresentado. As etapas que precisam ser cumpridas pelas equipes são bem esclarecidas. Então não se preocupe, porque o pessoal da organização vai dizer o que precisa ser cumprido dentro de cada etapa. 

É uma questão de estar presente. Vai ser necessário limpar a sua agenda, você não vai conseguir fazer mais nada nesse final de semana. Não tem como não fazer isso com dedicação integral, pois é bastante intenso. 

São dois dias de trabalho. O primeiro dia é de organização, mas o sábado e o domingo é de bastante trabalho. Afinal é uma competição, e, por mais que você chegue lá imaginando só participar e ficar na sua quando você perceber estará com sangue nos olhos - todo mundo quer ganhar.

Para resumir a minha experiência: 

- Valeu muito!

Pela convivência com a minha equipe e com as outras equipes, pela oportunidade de participar de todas as etapas da construção de uma solução - que une Direito, Design e tecnologia - e pelo aprendizado de como modelar uma solução viável para o mercado.

O nosso produto era um treinamento de compliance online. A ideia era fazer um treinamento mais leve e mais agradável para que os colaboradores tivessem mais proximidade e mais familiaridade com as regras do compliance

A gente validou várias idéias, descartou outras e evoluiu muito. Participar da competição, formular um pitch junto com os colegas e subir no palco é uma energia muito boa. A prova disso é que estou aqui recomendando para que você experimente. 

Eu iria novamente se eu tivesse algum projeto ou alguma ideia que eu quisesse validar, pois pela experiência e por saber quais são as etapas eu já fui.

Vale muito a pena participar!

Gostou da ideia? 

Se você tem curiosidade, fique ligado nos Legal Hackathons que acontecem ao longo do ano. O maior deles - que acontece no início do ano - é o Global Legal Hackathon. É um evento mundial que acontece em várias cidades do Brasil e do mundo. Então procure na sua cidade onde vai ser sediado, como vai ser e quais são as datas. 

Participe! 

O que isso tem a ver com o direito?

Algumas sacadas que você pode usar na sua prática diária
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